sábado, 9 de julho de 2011

A chave de Salomao

O Esoterismo
por José de Ribamar de Carvalho
Esta é a pr imeira de uma sér ie de três matér ias inéditas escr itas por José de Ribamar
de Carvalho, estudioso que durante mais de quatro décadas dedicou sua vida ao
ocultismo. Teosofista, rosa-cruz, maçon, José de Ribamar fez par te de mais de tr inta
ordens esotér icas. Seu conhecimento e prática da f raternidade gerou muitos e bons
frutos. José de Ribamar deixou este plano f ísico em outubro de 1994. Esta sér ie é
dedicada ao grande homem e ocultista que ele foi e por tudo que representou e
ensinou a muitos que, quando o conheceram, estavam dando seus pr imeiros passos
na Senda.
A cultura de todos os povos, em todos os lugares e em todas as eras,
sempre foi const ituída por conhecimentos que eram dados a todos e out ros
que eram privilégios de poucos; dos escolhidos, dos que haviam se tornado
dignos de recebê-los após um longo tempo de preparo moral e espiritual,
ministrado nos templos, após o ritual iniciatório.
Este longo preparo para a iniciação const ituía o mist icismo e os ensinos
dados nos mistérios menores, eram o conhecimento exotérico e ambos
constituíam os ensinos do ocultismo.
O esoterismo provêm do grego esoterkos, interno, é a doutrina que se
oculta à generalidade das pessoas e se revela apenas aos iniciados.
Transcendendo a formas e dogmas, pode, por sua universalidade essencial,
conciliar os múltiplos e aparentemente divergentes aspectos da verdade. É
o conhecimento direto da verdade, acessível aos moral e intelectualmente
preparados, e adquirível por meio dos símbolos e alegorias, meditação no
seu significado interno, intuição e realização das instruções recebidas.
É aquilo que Jesus disse aos seus discípulos: a vós é dado conhecer os
mistérios do reino dos céus, mas a eles (o povo, os não-preparados) não
lhes é isso dado. Por isso lhes falo em parábolas, porque vendo, não vêem,
e ouvindo, não ouvem, nem entendem (Mateus 13:11-13).
Embora o esoterismo, nas escolas de mistérios de todos os povos, tenha
sido minist rado at ravés do simbolismo e de inumeráveis mitos ou fábulas,
ele tem um fundo de significação, que é a essência e o fundamento de
todos os grandes sistemas religiosos, adaptados às conveniências culturais
e étnicas dos povos e à sua época.
Pode-se mesmo falar de um esoterismo romano, grego, islâmico, judeu
e, notadamente, do esoteris mo egípcio que influiu em todos os outros.
O esoterismo inst ituiu o fundamento das escolas de mistérios de
Dionísio-Deméter, de Eleusis, Orfeus, Pitagóricos, de Mit ra, da Gnose, do
Maniqueísmo, dos Sufis, dos Ismaelianos e da Cabala e de todas as outras
escolas, ordens ou religiões.
Como o esoterismo egípcio ou hermet ismo, no ocidente, é o mais
importante, trataremos apenas dele.
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O esoterismo é a herança cultural dos povos da Atlânt ida t ransmitida
aos egípcios e conservada nos templos de iniciação.
Ele foi ensinado por Hermes Trimegist ro e constitue a Tábua de
Esmeralda, uma série de diálogos entre Hermes e seu discípulo Asclépios,
acerca da criação, da natureza de Deus, da mônada, do Bem e do Mal, da
Vida e da Morte, da constituição espiritual de todas as coisas, etc. O Livro
dos Mortos dos egípcios é, também, um manual
eensinamentos esotéricos.
Os ensinamentos esotéricos foram ocultados no
mito de Pã, o Deus-Pastor caprino, o Baphomet, o
Arcano XV, o Diabo do Tarô.
Pã, filho de Hermes e da ninfa Salmat is, neto de
Zeus e do gigante Atlas, representava tanto o
princípio primordial divino, como o material e o
humano, ora o feminino, Íris, a natureza humana e
das coisas.
Hermes, o pai, era também Thot e na forma de
Thot, Hermes é a figura intermediária entre o natural,
Pã, e o divino, desta forma era, ao mesmo tempo, paifilho
e possuía a mesma natureza.
Hermes, o princípio divino e Pã, a natureza
psíquica, ambos formam a natureza humana.
Neste mito de Pã-Hermes, encontram-se os fundamentos de tudo o que é
superior e inferior da unidade essencial, da expressão do múlt iplo, e de
todos os ensinos que consiste os fundamentos esotéricos das religiões
ditas pagãs e gnósticas.
Para se abordar o esoterismo e compreendê-lo é preciso que se o
considere sob dois pontos de vista: o filosófico-cient ífico, que explica, com
a ajuda da filosofia e da teologia, o esoterismo como parte do
desenvolvimento mental do ser humano.
O ponto de vista mágico-religioso aborda os aspectos numinosos,
inteligíveis, os paradoxos do esoterismo, os ensinamentos que só são
admissíveis pela fé.
Com a queda do império egípcio e de sua cultura, vem o esoterismo de
Pitágoras, de Platão, de Aristóteles, que tiveram profunda influência no
cristianismo primitivo.
Por outro lado, o Egito, at ravés de Moisés, exerceu preponderante papel
na formação da cultura do povo judeu e de sua religião, na qual vamos
encont rar os ensinamentos exotéricos e esotéricos que caracterizam os
fundamentos do Talmude, do Torá e da Cabala, bem como das escolas
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essênias, nazarenas, farisaicas e out ras. Do esoterismo originou-se a gnose
ou conhecimento transcendental.
Com o advento do cristianismo houve o reencontro entre o esoterismo
judaico e o ocidental, acentuado pelas peregrinações e pregações dos
apóstolos, que integravam as comunidades esotéricas ou gnóst icas,
notadamente, Pedro, João, Tiago e Felipe. Entretanto, nem todos os
apóstolos eram gnósticos, muitos só eram exoteristas e ent re estes Paulo,
daí o surgimento do conflito entre o cristianismo e as seitas gnósticas.
Com o passar dos tempos, o crist ianismo exotérico com o apoio do
Estado romano passou a ser a religião oficial e passava a perseguir as seitas
gnósticas que contradiziam seus ensinamentos.
O desenvolvimento do crist ianismo exotérico se solidificou quando o
bispo de Roma se apropriou do título oficial Pont i Fex Maximus e passou a
ser uma igreja católica, herdeira de Cristo e intermediária entre o homem e
Deus e a depositária da salvação pela distribuição dos sacramentos.
A Igreja pregava a salvação intermediária de fora, a dualidade
inconsciliável da natureza divina e humana, a gnose, ao cont rário, ensinava
a auto-salvação e a unidade da natureza divina e humana harmonizada pelo
esforço pessoal. A Igreja apregoava ser Cristo o único filho de Deus, a
gnose afirmava que todos os homens são filhos de Deus.
Apesar de a Igreja ter destruído os celtas, os templários, os cátaros e
muitas outras seitas e povos, o esoterismo sobreviveu através dos séculos,
nos ensinamentos de Alberto Magno, de Roger Bacon, Theophraustus
Bombastos von Hohenhein, Paracelso, Chust ionus Rosencreutz, Giusepe
Balsamo, Conde de Cagli ost ro, Alphonse-Louis Constant, Aleister Crowley,
Mathew McGregory e muitos out ros. O esoterismo sobreviveu nas ordens
Rosa-cruzes, Aurora Dourada, Maçonaria, Mart inismo, na Teosofia , na
Escola de Gurdijiefe, etc.
Estudou-se a origem, o significado e o desenvolvimento na História,
vamos, agora, estudar os conceitos fundamentais que constituem a
doutrina esotérica.
São seus fundamentos as afirmações: 1º) Tudo é um. O divino e o
humano não são diferenciáveis na sua essência, mas manifestações de um
mesmo princípio em esferas diferentes. Da mesma forma, o Bem e o Mal
são verdades eternas; 2º) A unidade de tudo é o ser. O positivo é a
essência; o negativo, a substância; 3º) O homem é um microcosmo, ou seja,
ele contém em si tudo o que está contido no cosmos; 4º) Existe algo
absoluto, a realidade única, que é tanto o ser absoluto quanto o não-ser; 5º)
A eternidade do cosmos se manifesta ciclicamente. Inúmeros universos vêm
e vão como a enchente e a vazante das marés, como a alternância entre o
dia e a noite, como a vida e a morte, como o despertar e o dormir; 6º) No
cosmos, cada unidade essencial (alma) traz em si uma centelha do absoluto,
a alma transcendental; 7º) Tudo provém de uma causa primordial básica, de
um ponto central, com o qual está em relacionamento e com o qual
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permanece unido; 8º) O cosmos é a manifestação periódica cíclica de um
ser desconhecido, absoluto, que pode ser chamado de ELE; 9º) Tudo no
cosmos tem consciência, de modo específico e dentro de um limite de
percepção; 10º) Não existe nenhum deus que possa ser captado em forma
de uma imagem humana. Existe uma energia primordial, denominada
Logos, que deve ser contemplada como o criador do cosmos. Esse Logos se
assemelha a um arquiteto, criador de uma estrutura, realizada pelos out ros,
pelos obreiros (as forças que atuam no cosmos); 11º) O cosmos foi criado
segundo um planano ideal que está cont ido no absoluto desde a
eternidade, etc.
O esoterismo não é ocult ismo, como a parte não é o todo, embora dele
faça parte.
O esoterismo é a parte do ocultismo que se refere a instituição espiritual
do homem e de sua vinculação com o absoluto.
O esoterista está para o ocultista, como o técnico está para o cientista.
O esoterismo é difundido por várias fraternidades com os objet ivos de
promover o despertar das energias criativas latentes de cada filiado no
sentido de lhe assegurar o bem-estar físico, moral e social, mantendo-lhe a
saúde do corpo e do espírito e concorrer, na medida de suas forças, para
que a harmonia, o amor, a verdade e a just iça se efet ivem cada vez mais
entre os homens.

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